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A relatividade do“tempo” no setting analítico

Por Andre Talvani Pedrosa da Silva

O físico Albert Eistein (1879-1955) afirmou, em 1905, que o tempo seria uma entidade relativa podendo ser acelerado ou retardado, a depender de fatores envolvendo a velocidade dos corpos.

Em outras palavras, quanto maior a velocidade de um corpo, mais devagar o tempo transcorreria para ele.

Da mesma forma, o neurologista e psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939) dedicou sua vida a compreender o elemento “tempo” imbuído na psiquê humana, tornando-o peça fundamental para a estruturação da teoria psicanalítica.

O tempo está presente no deslocamento durante a interpretação dos sonhos, nas fases deflagradoras do desenvolvimento psíquico (infância) e, no desenvolvimento das angústias e neuroses humanas.

Afinal, o ser humano não compreende o minuto vivido no agora nunca mais retorna, sendo a vida uma evolução em fluxo contínuo em direção ao futuro.

Por isso, os dois gênios que mudaram os paradigmas científicos no último século concordavam em um ponto: o tempo era relativo tanto para o universo físico quanto para o psíquico!

No setting analítico, esta relatividade temporal pode ser evidenciada no tempo pré-estabelecido para cada sessão, na angústia trazida pelo analisando em prever “quanto tempo ele precisará de análise” ou mesmo no desejo do analisando de retroceder à sua infância ou outras fases de sua vida. O setting é, portanto, sustentado pelo “tempo relativo”.

Por isso é impossível prever a condução de qualquer sessão de análise, pois o tempo do analista e o tempo do analisando atravessam o setting em velocidades distintas e individuais.

Não há como prever o tempo de ocorrência do processo de transferência entre analisando/analista, nem o tempo para ocorrer o retorno do recalcado, nem para nascer uma lembrança ou brotar uma lágrima e, principalmente, não há como prever quando haverá o desejo de mudança e de ressignificação por parte do analisando.

Viver a psicanálise é um desafio diário, onde analista e analisando se encontram num espaço e num tempo presentes (setting) para se entregarem ao “tempo relativo” de quem “fala e se ouve” e de quem mantém a atenção flutuante, rumo à uma viagem de sensações e transformações.

ANDRE TALVANI PEDROSA DA SILVA – estudante de psicanálise

6 respostas

  1. Bela reflexão!!! Fundamental no processo de autoconhecimento é transitar no passado, explorar o futuro, mas viver com a cabeça no momento presente. Esse é o maior desafio.

    1. Fico feliz por suas palavras, Anesca. Complementou a ideia do texto com uma bela reflexão embasada em sua sólida experiência como psicóloga! Agradeço, de coração!

  2. Sandra, Shirley e André Luiz. Fico muito feliz que tenham gostado e captado a mensagem do texto. São ideias que acabam surgindo das nossas trocas de experiências, das discussões e do convívio junto à EPC. Muito prazerosa esta caminhada!

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