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É melhor ser alegre do que ser triste?

Por Willian Nunes Bueno

 “É melhor ser alegre que ser triste, Alegria é a melhor coisa que existe

É assim como a luz no coração, Mas pra fazer um samba com beleza

É preciso um bocado de tristeza, É preciso um bocado de tristeza”

A música de Vinicius de Moraes, com seus versos marcantes, reflete a complexidade das emoções humanas. “É melhor ser alegre que ser triste”, entretanto, se conecta com a visão de Freud de que a tristeza é parte integrante da condição humana. Essa dualidade se alinha com a abordagem psicanalítica, destacando que a tristeza é inerente à nossa existência e não deve ser negada, mas compreendida e enfrentada.

Partindo do princípio de que a alegria não é um estado estático, mas sim uma busca constante, à medida que Freud observou, somos desafiados a entender a tristeza como uma companheira inevitável, integrada à condição humana. Para Freud, a felicidade é um estado raro, ligado ao equilíbrio das pulsões de vida e morte, o que sugere a complexidade da busca pela satisfação completa.

Nasio contribui para a discussão ao explorar a inter-relação entre a alegria, a tristeza e a felicidade, apontando para a complementaridade dessas emoções. Em seu ponto de vista, a melhor resposta não está em escolher entre alegria ou tristeza, mas em compreender que ambas são partes fundamentais da nossa existência humana. A tristeza desempenha um papel crucial no enfrentamento dos desafios da vida, permitindo-nos evoluir como indivíduos.

Lacan, por sua vez, destaca a tristeza como uma força criativa para o desenvolvimento da subjetividade. Ele enfatiza que a tristeza não é o único caminho para essa evolução. A alegria, o amor e a vivência da jouissance, (traduzida muitas vezes como plenitude), também são elementos vitais nesse processo. Essa perspectiva ressalta a importância de um equilíbrio entre as emoções para a construção da nossa subjetividade.

A tristeza, então, não deve ser vista como um fardo, mas sim como uma força motivadora para uma busca mais profunda de nós mesmos. Compreender essa interligação entre a alegria e a tristeza é fundamental para aceitar a complexidade das nossas emoções.

Portanto, a resposta à pergunta “É melhor ser alegre do que ser triste?” não é simplesmente uma escolha entre dois estados emocionais opostos. É uma exploração das profundezas da psique humana, da interconexão entre a tristeza e a alegria, e do papel transformador da psicanálise nesse processo. Através da análise de nossos desejos, medos e projeções, podemos chegar a uma compreensão mais profunda de nós mesmos e da riqueza de emoções específicas de nossa existência.

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WILLIAN NUNES BUENO

Psicanalista em formação na Escola de Psicanálise em Curitiba (PR).

Instagram: @billnbueno

2 respostas

  1. Belíssimo!!
    👏
    Viver é uma arte, com cores, sons, nuances, traços: suaves, duros, brilhantes, foscos, confusos, nítidos, abstratos… saber harmonizar essas misturas nem sempre é fácil, nem sempre se sabe, nem sempre é belo ou prazeiroso. Que boa é a possibilidade de termos um espaço de escuta para elaborar as experiências que nos chegam e ressignificar tristezas, angústias e fobias que podem aparecer. É melhor ser alegre e ser triste: é ser vivente. É “sobre viver” melhor. 🫶🏻

  2. É curioso pensar que, frente determinadas situações, algumas alegrias podem nos trazer tristezas. E na mesma perspectiva, a tristeza pode nos trazer alegria. A vivência entre esses dois sentimentos nos coloca frente a espelhos que representam realidades distorcidas. A análise vai muito a fundo…

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