Interpretação: A Elaboração de um Sujeito

Por Valéria Maria
Vale elucidar que a interpretação na experiência analítica da clínica lacaniana trata de atualizar e de produzir não a continuidade entre o inconsciente e o consciente do sujeito, mas a chegada a uma espécie de desconhecimento radical, possibilitando ao analisando que a condição do eu se faça mais ausente. O ato psicanalítico e a interpretação sustenta Lacan, visam à destituição subjetiva. Em algum momento de sua obra, Lacan aproxima o fazer poético do trabalho da interpretação analítica: esvaziamento do sentido até o limite da pura significação.
No entanto, é salutar estarmos atentos ao ensino de Lacan que nos chama atenção para o fato de que não é qualquer intervenção do analista que pode ser considerada como uma interpretação. A não ser que produza efeitos, uma pontuação ou intervenção do analista não pode ser considerada interpretação, o que significa dizer que uma interpretação é um ato que produz como efeito uma emergência de algo lá do inconsciente, que deve advir. E o efeito que se espera do levantamento desse real é produzir sentidos.
Quando uma intervenção do analista leva o analisando a pensar algo que ele não pôde pensar antes, aí ocorre interpretação. A interpretação opera pela capacidade do significante esvaziar sentido e reduzir o sentido do sintoma, apontando para uma queda do sentido do gozo. A interpretação funciona aí, se tocar no lugar da verdade do sujeito e, no que diz respeito ao ato analítico, pode ser considerada como criadora do sujeito de desejo.
A interpretação em psicanálise não é a revelação de um sentido último, mas a elaboração de um sujeito, o analisando, em relação ao seu desejo recalcado, ou seja, a elaboração da posição desse sujeito com seu desejo e às barreiras que o interditam.

Instagram: @vmpsicanalise
Whatsapp: (47) 99963-6530
O significado de sentir. Ótimo texto.
que trabalho bonito e potente do analista! transformador!