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O Analista diante de “Preciosidades Venenosas”

Por Gislaine Zanella

Apesar de Lacan não ter considerado o conceito de resistência como fundamental, pois para ele os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise eram inconsciente, pulsão, transferência e repetição; para Freud a condição para que alguém pudesse ser reconhecido como psicanalista seria a admissão no tratamento da existência dos fenômenos da transferência e da resistência. Como pai da Psicanálise considerou o discernimento da resistência como elemento necessário para caracterizar um tratamento psicanalítico. Isso porque este foi o pivô da transformação do método catártico em método psicanalítico.

A ação do psicanalista vai na contramão do processo de resistência. A análise vai levar o analisando à constatação de que seus sintomas são, na verdade, a manifestação patológica, doentia e sofrida de um desejo que não pode ser reconhecido, que não pode ser encarado de frente. A análise vai conduzir o mesmo ao reconhecimento de que é um ser obscuro, radicalmente distinto de quem acreditava ser. Nesse processo, o analisando vai descobrir coisas não muito agradáveis a respeito de si. Aliás, o próprio fato de constatar o desconhecido sobre si mesmo já se torna profundamente angustiante. A análise o levará ao reconhecimento de pulsões que jamais esperaria encontrar em si, compreendendo e admitindo que os “venenos psíquicos” aos quais quer se livrar são, na verdade, “situações preciosas” que guarda com satisfação. Nesse caso, entendemos que ninguém quer se livrar de “preciosidades” sem ao menos impor alguma resistência. O analista é aquele que traz essas “preciosidades venenosas” à luz, ou seja, promove a retirada delas das gavetinhas as quais são guardadas.

Nós não queremos a luz! Temos medo de reconhecer para nós mesmos que somos colecionadores dessas preciosidades e que por vezes as guardamos à sete chaves. Temos medo do que podemos descobrir sobre nós, do que podemos pensar sobre nós, as nossas verdades profundas. É por conta desse medo que as guardamos no lugar secreto da nossa alma. Por causa desse medo que resistimos.

Mas se o sintoma nos faz sofrer, por que temos tanta dificuldade de renunciar a isso resistindo o tempo todo?

Porque é uma aparente “solução de compromisso” inscrita no processo de nossa constituição. É como se fosse a marca de identificação, como se fosse uma assinatura. É difícil que alguém renuncie a isso, “sob pena de se separar de uma parte dele mesmo”. (Lacan)

Não sabendo que o sintoma é o resultado de um conflito inconsciente, recorremos à ciência na tentativa de se livrar do mal-estar.

Em análise, vamos reduzindo as resistências através da segurança. Quando nos sentimos seguros, resistimos menos.

Gislaine Zanella – Psicanalista

Instagram: @saudemental_psicanalise

3 respostas

  1. Excelente texto. No dia a dia vamos guardando rancores, oprimindo nossos desejos, etc. Eventualmente eu desejo colocar fogo em certas pessoas e ficar olhando, mas como meu consciente m segura, lembrando que poderia ser preso, etc., recalco e deixo pra lá.

    Será que sou normal ?? Rssss

    Obgdo

    Abçs

  2. Que colocação perfeita. Quantos recalques…, desejos oprimidos… mágoas e rancores… impulsos reprimidos… etc. Fazer a análise nos ajudará a conhecer as “preciosidades venenosas” e admitirmos o quanto temos a desvendar e sarar para vivermos quem realmente somos!!!

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