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O Carcereiro da Alma

Por Andre Talvani Pedrosa da Silva

Na história da humanidade, em distintas épocas e sistemas sociais, sempre houve a representação do aprisionado (aquele punido pela perda de sua liberdade) e do aprisionador ou carcereiro (aquelere responsável por garantir a ausência da liberdade). Diante destas duas entidades representacionais, qual delas vivenciaria maior angústia e/ou sofrimento?

É indiscutível que a condição de clausura e de perda da liberdade gerem sofrimento e, por isso, a resposta mais imediatista seria – o prisioneiro. Porém, ao perder a liberdade, o prisioneiro se adapta, introjeta sua dor, a transforma em raiva/vingança e sobrevive sublimando estratégias para uma provável fuga. E, há ainda o risco desta fuga gerar uma rebelião. Ao contrário, cabe ao carcereiro não permitir que este movimento de fuga ocorra, pois uma fuga expõe as fragilidades de um sistema prisional falho. Assim, o carcereiro convive diariamente com uma angústia constante e um medo crescente de que uma fuga ou rebelião aconteça a qualquer momento.

O ser humano é o carcereiro de sua alma. Desde as primeiras experiências na infância, ele se vê obrigado a enclausurar suas pulsões, seus desejos e suas memórias, em detrimento do cumprimento das regras estabelecidas pela instituição prisional (Ego, Super-Ego e suas interconexões com meio social/cultural/religioso). E, por demandar vigília constante, o carcereiro nunca se permita descansar e muito menos falhar!  Uma breve distração e as entidades aprisionadas escaparão por meio de chistes, de atos falhos ou mesmo de sonhos, expondo conteúdos e segredos antes nunca enfrentados naquela instituição prisional. Por isso, “ser” humano é se manter em estado constante de controle dos elementos de seu inconsciente. E para isso, mecanismos de defesa afloram e o carcereiro fragiliza sua estrutura psíquica se tornando susceptível as manifestações psicossomáticas, declinando em qualidade de vida pessoal e convívio social.

ANDRE TALVANI PEDROSA DA SILVA
Estudante de Psicanálise

9 respostas

  1. Parabéns, André pelo texto!
    Neste contexto acredito que o ser humano não seja o carcereiro, pois se observamos temos duas palavras que tem significado diferentes Ser – Humano

    Ser – relacionado a nossa própria essência quem somos no nosso mais profundo âmago.

    Humano se refere-se ao símbolo do Lacan, algo que buscamos fora para nos definir (ego, superego- carcereiro se encontra aqui) que está relacionado a alma.
    A busca desta Alma é por querer saber quem ela realmente é, a própria essência.
    Ou seja o Real de Lacan ex-sistente, o que não pode ser nominado.
    anai_bhana@hotmail.com

  2. Belo texto e uma ótima percepção acerca daquilo que se traduz entre o aprisionado e o aprisionador…
    Parabéns André

  3. Oi, meus amigos. Fico feliz que tenham gostado da ideia do texto. Um abraço a todas(os) e vamos seguindo em nossa formação junto à EPC.

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