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Repetir, Repetir, Repetir até a MORTE!

Por Gislaine Zanella

Como bom cientista, Freud queria acima de tudo saber como funcionava a “cabeça das pessoas”.

Durante os primeiros anos de seu trabalho, em seu esforço para descobrir a lógica da psique, ele elabora uma hipótese poderosa de que a lei que regia os processos mentais era a busca de prazer e a evitação do desprazer. Chegou a essa ideia pela análise de um fenômeno bastante curioso que se tornou a base da teoria psicanalítica: o recalque.

Freud observou que no discurso de seus pacientes havia lacunas referentes a pontos específicos de suas histórias de vida, e que, no decorrer das análises, era possível perceber que tais lacunas eram provocadas pelo fato de seu paciente ter excluído de seu campo de consciência certas lembranças.

Mas por que o paciente faria isso?

Porque tais lembranças lhes traziam desprazer. Essa observação de Freud o fez sustentar a ideia de que o psiquismo era regulado pelo princípio de prazer.

Posteriormente, devido inúmeros fatores ele modifica seu pensamento. Um fator era a hipótese de que os pacientes pareciam se satisfazer com o próprio sofrimento. Inconscientemente, queriam se manter doentes. Esse novo pensamento nos traz uma tendência do ser humano que, diferente da pulsão sexual, não o leva a procurar o prazer, mas a buscar uma modalidade de satisfação que ultrapassa os limites do bem-estar. Para que exista prazer é necessário haver um desconforto, um desprazer. Não nos satisfazemos apenas com o equilíbrio, com o prazer. Queremos mais. Isso caracteriza, por exemplo, caso de pessoas que sempre entram em relações amorosas que lhe fazem mal, mas que inexplicavelmente não conseguem mudar. Como se inconscientemente buscassem o próprio mal.

Essa aparente compulsão a repetir situações dolorosas, Freud trata como a existência de uma pulsão de morte.

Morte? Sim. Ao contrário das pulsões sexuais que nos fazem construir ligações afetivas e gerar outras vidas, e das pulsões de autopreservação que nos fazem preservar nossa própria vida, a pulsão de morte parece querer nos levar para o buraco!

Mas por que tal impulso existiria em nós? Nosso aparelho psíquico funciona como uma máquina de descarregar tensões. A ansiedade emerge quando não conseguimos descarregar essa tensão acumulada. Se essa tensão for totalmente descarregada, morremos. Neste caso, compreende-se que se atendermos a essa necessidade do nosso aparelho psíquico o resultado é justamente a morte.

Podemos, portanto concluir que, se o nosso aparelho psíquico tende a descarregar toda a tensão que acumulamos em nosso dia a dia, quando temos a necessidade de repetir as mesmas coisas, encontramos a oportunidade para buscar a descarga total. Nesse sentido, a repetição seria uma forma de tentar descarregar toda essa tensão acumulada.

Uma boa imagem dessa verdade, como exemplo para a pulsão de morte é o viciado em craque. Ele deixa de pensar em trabalho, estudo, namorada, para passar o dia fumando seu cachimbo. Mas o que ele busca? Paz.

Ele não quer prazer sexual e nem prazer de comer um maravilhoso banquete. Ele quer uma sensação maior. Ele busca por uma satisfação que não o faça sentir fome, sede, tesão. Por poucos minutos ele consegue, pois a droga lhe dá essa ilusão. Mas o efeito em pouco tempo acaba.

E aí é necessário repetir, repetir, repetir até a MORTE!

Gislaine Zanella – Psicanalista

Instagram: @saudemental_psicanalise

7 respostas

  1. Boa tarde professora,
    o que há de certo que nossa mente sempre tende para o lado da negatividade, do perigo, por uma autopreservação. Caso contrario seríamos presas fácil por não estar em alerta constante.
    O prazer, o conforto, o está tudo legal, nos deixa pouco alerta. O estar sempre desconfiados em nosso espaço geográfico, nos deixaria alertas e isso nos auto preserva?

    Como seres vivos, como o conjunto de seres vivos, procuramos o prazer e estar longe do desprazer.

    Qual é sua opinião disto?

  2. ótimo texto tenho a impressão que inconscientemente buscamos o que nos faz mal e rejeitamos, muitas vezes, o que nos faz bem .

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