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Sobre a Contratransferência.

Por Kelly Ruivo

“Será que o que eu sou me permite abandonar o meu eu por um instante e ir até o lugar?”. (Nasio, J.D no livro Como Trabalha Um Psicanalista?)

          Começo este texto refletindo sobre este trecho do livro do Nasio, para falar da contratransferência. Quero levantar aqui a seguinte provocação. Será o analista capaz de sair de cena, quando o que está em sua frente é o discurso que em alguma medida também fala dos seus afetos?

          E para minimamente tentar pensar sobre esta questão, trago aqui mais perguntas. Como exemplo, vou usar uma questão ainda atual e que de um modo ou outro atravessou a todos no entanto. Quem de nós estava preparado para a pandemia? Como sair do setting que nada mais é o psicanalista, chegar em casa e se vê perturbado, angustiado pela mesma questão?

          Será que ao dobrar nossos estudos, a análise, seríamos capazes de sustentar nossa posição de analista nesta circunstância? Claro aqui levanto esta questão e uso este exemplo, para que seja mais neutra possível nossa elaboração, mas sabemos que a palavra “pandemia” pode nos valer como algo simbólico, para que possamos refletir nas inúmeras questões as quais um analista pode ter de elaborar seja com ele quanto com seu analisando.

          De fato muito se fez depois de Freud, mas ainda assim somos sempre convidados a revisitar nossas origens seja elas pessoais ou teóricas, para conseguir fazer algo com o novo que se apresenta, como nos diz Green ” Somos todos pós-freudianos , mas estamos sempre com ele para interrogar nosso saber.”

          É neste ponto que chegamos perto de um lugar que ao meu ver se faz necessário ser conhecido, para que possamos pensar sobre a contratransferência , a ideia do quão frágil é o lugar do analista, perante a quem se é e perante ao seu analisando.

          Não acho que possamos encontrar na teoria uma forma de tratar estas questões, se não como algo que parte da singular de cada um de nós, mas creio que estes questionamentos que aqui ficam em aberto e que nunca tive a intenção de encerrar, fazem com que a psicanálise seja este tecido vivo em constante elaboração.

          Independente de qual for a escola ou teórico a qual estudamos e a qual nos identificamos, sempre recebemos a inevitável notícia de que a clínica seja ela qual for, sempre se constitui da vivência do analista em sua própria análise. Sendo assim, saber da fragilidade deste lugar faz com que possamos talvez minimizar e lidar com a contratransferência.

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Kelly Ruivo Psicanalista em formação pela Escola de Psicanálise de Curitiba, graduada em Administração pela UMESP.
 

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