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Winnicott – Sobre a Mãe Suficiente e Insuficientemente Boa

Por Arthur de Oliveira Gonçalves

                Quando as carências da criança são eficientemente atendidas pela mãe, tem-se, então, um ambiente favorável ao seu desenvolvimento. Winnicott nomeia esta mãe como suficientemente boa, ou seja, esta mãe é boa o bastante para que a criança conviva com ela sem prejuízos para a sua saúde. “A mãe suficientemente boa permite à criança pequena desenvolver uma vida psíquica e física fundamentada em suas tendências inatas. Assim, ela pode experimentar um sentimento de continuidade da vida, que é o sinal da emergência de um verdadeiro self, de um verdadeiro eu.” (ARCANGIOLI, 2020, p. 186)

                Em contrapartida, tem-se a mãe insuficientemente boa, a qual pode ser uma mãe real ou uma “situação”. Em termos gerais, esta mãe não possui a capacidade de identificar e suprir as necessidades de seu filho. Winnicott ressalta que a mãe real pode ser ainda pior, quando suas atitudes causam confusão ao bebê. Ela é imprevisível, pois passa abruptamente do bom cuidado à negligência. Isso faz com que o bebê deixe de confiar nela. (ARCANGIOLI, 2020, p. 187)

                A mãe insuficientemente boa como “situação” é quando o cuidado oferecido ao bebê vem de várias pessoas. Neste sentido, a criança se depara com uma mãe dividida em partes. O que deveria ser simples torna-se complexo, ou seja, o oposto do que a criança espera. Portanto, a mãe insuficientemente boa (real ou situação) será um obstáculo para o desenvolvimento da criança. Assim, os atos da mãe insuficientemente boa na fase da dependência absoluta(do nascimento aos seis meses de vida) são sentidos como recusas de satisfações pulsionais, ou seja, “provocam carências na satisfação das necessidades e criam obstáculos ao desenrolar dos processos vitais.” (ARCANGIOLI, 2020, p. 187)

                A mãe suficientemente boa na fase de dependência relativa (dos seis meses ao segundo ano) é a mãe que está viva, ou seja, que não “desaparece”. Isto significa:  a) a mãe dos momentos tranquilos (atenciosa e terna) continua a cuidar da criança com a mesma atenção e ternura em outros momentos; b) é a mãe que, ao se ausentar, não demora em se fazer presente novamente, para que a criança conserve uma representação dela viva. Assim, a “sobrevivência” da mãe é fundamental nesta fase, caso contrário, devido a um intenso sentimento de falta, causa problemas emocionais que podem se desdobrar em diferentes distúrbios psíquicos, como “tendência antissocial, a hipocondria, a paranoia, a psicose maníaco-depressiva e algumas formas de depressão.” (ARCANGIOLI, 2020, p. 195)

Dessarte, independente da fase em que a criança se encontra, a mãe tem um papel decisivo na qualidade da saúde mental de seu filho. 

ARGANGIOLI, A.-M. Apud NASIO, J.-D.Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2020. p.185, 187, 188, 195.

Arthur de Oliveira Gonçalves – Psicanalista
E-mail: arthuroliveigo@hotmail.com

2 respostas

  1. Ótimo texto, nos da ideia de que a falta do olhar materno pode levar a perda da realidade do bebê, pois a mãe é seu espelho de vida, e seu ideal de eu.

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